20080914

Luiz Bonfá

Luiz Bonfá
17/10/1922 - 12/1/2001

Um dos integrantes do primeiro grupo de músicos da bossa nova, compositor de
clássicos como "Manhã de Carnaval" e "Samba do Orfeu" (ambas com Antônio
Maria), Bonfá começou a tocar violão de ouvido, na infância, no Rio. Aos 12
anos passou a ter aulas de violão clássico com o uruguaio Isaias Savio. Na
década de 40 tocou na Rádio Nacional, ao lado de Garoto. Participou de
alguns conjuntos, como o Quitandinha Serenaders, até começar a carreira
solo, como violonista. Teve atuação destacada como compositor, e seus
primeiros sucessos foram gravados por Dick Farney, em 1953. A peça "Orfeu da
Conceição", de Vinicius de Moraes, foi um marco em sua carreira. Tocou
violão na gravação do disco da peça em 1956 e, três anos depois, compôs
algumas das faixas que compunham a trilha sonora do filme de Marcel Camus
("Orfeu do Carnaval") inspirado na peça. Participou do Festival de Bossa
Nova no Carnegie Hall em Nova York, 1962 e morou nos Estados Unidos de 1964
a 66 e nos anos 70, sempre respeitado como compositor refinado e exímio
violonista. Uma de suas características é tocar fazendo amplo uso do recurso
das cordas soltas, o que confere uma sonoridade ampla e grandiosa.
Participou do Festival Internacional da Canção em suas três primeiras
edições (1966, 67 e 68), com as músicas "Dia das Rosas", defendida por
Maysa, "Vem Comigo Cantar" e "Amada", defendida por Luiz Cláudio (todas três
em parceria com Maria Helena Toledo). Nos anos 70 dedicou-se ao jazz,
trabalhando com o produtor Eumir Deodato e com o percussionista Dom Um
Romão. Gravou diversos discos nos EUA que não foram lançados no Brasil.
Voltou a gravar no Brasil no fim dos anos 80 e anos 90, lançando discos
bem-sucedidos também nos Estados Unidos. Realizou um trabalho com a cantora
Ithamara Koorax, que lançou o CD "Almost In Love/The Luiz Bonfá Songbook" em
1997. "Almost In Love", composição de Bonfá, foi a única música brasileira
gravada por Elvis Presley. Frank Sinatra, Sarah Vaughan, George Benson, Tony
Bennett e Julio Iglesias são outros intérpretes que já cantaram músicas de
Bonfá. Outros sucessos são "De Cigarro em Cigarro", "Correnteza", "The
Gentle Rain", "Menina Flor", "Mania de Maria" e "Sem Esse Céu".
Um inovador sutil mas definitivo
Dono de uma pegada única no violão, Bonfá teve composições definitivas na
implantação da sintaxe da bossa nova
O carioca Luiz Floriano Bonfá nascido em 1922, morava em Santa Cruz na então
remota zona oeste do Rio (décadas antes da explosão da Barra da Tijuca).
Tinha 12 anos e tomava o trem até a Central onde caminhava até a Lapa e daí
para a casa do uruguaio Isaías Sávio, seu professor de violão na subida para
Santa Teresa. "A sorte é que ele tinha uma atenção especial com o meu
esforço e se recusava a receber, porque eu não teria como pagar a aula
semanal", lembrou Bonfá num texto especial para o CD Luiz Bonfá e as Raízes
da Bossa, da Enciclopédia Musical Brasileira da WEA/Continental. O disco
garimpava as andanças modernizadoras do violonista que trançou cordas com
outro revolucionário, Aníbal Augusto Sardinha, o Garoto (1915-55) na Rádio
Nacional. Ambos seriam mais tarde reunidos em disco pelo produtor Aloysio de
Oliveira . O Bonfá dos primórdios, ainda com o grupo vocal Quitandinha
Serenaders, já em 1948 demonstrava seus traços de inconformismo com a MPB
vigente, mas foi a partir de 1951 com a gravação da Canção do Vaqueiro e as
subseqüentes Sem Esse Céu (1952) e Perdido de Amor (1953) todas por Dick
Farney, que Bonfá passou a ser um dos líderes das transformações musicais
que resultariam na bossa nova. Seu samba-canção De Cigarro em Cigarro tinha
sido registrado sem alarde por outro inovador, Johnny Alf mas foi estourar
na voz sombreada de Nora Ney (outra precursora) em 1953. Lúcio Alves, outro
da turma, gravou Entre Nós, em 1952.
No meio da década, um aspirante a músico chamado Antonio Carlos Jobim
dispôs-se a carregar o pesado equipamento de amplificação do violão elétrico
usado por Bonfá para acompanhá-lo nos shows. Da convivência ("nós estávamos
sempre um na casa do outro, era tudo muito espontâneo", descreveu Bonfá no
texto) nasceu a parceria que forneceria um sucesso para Ângela Maria (A
Chuva Caiu), outro para a posteridade, Correnteza, regravada por Djavanpara
novela global O Rei do Gado, de 1997 e um samba-canção, Engano (1953) para
outra iniciante renovadora, Doris Monteiro. No 10 polegadas de Bonfá de
1955, um embrião da bossa salta de faixas como Chora Chorão (do próprio
Bonfá), Minha Saudade (ainda sem a letra de João Gilberto), ambas com
participação pioneira de João Donato (autor da segunda) no acordeon.
Saboroso é o ocorrido ao choro O Barbinha Branca, parceria de Bonfá e Jobim
também de 1955. O tema instrumental foi simplesmente repaginado para Um
Abraço no Bonfá por João Gilberto, que o assinou e gravou no clássico LP O
Amor, o Sorriso e a Flor, de 1960.
A grande virada na carreira do violonista ocorreria quando ele foi convidado
a participar da trilha da versão cinematográfica da peça teatral Orfeu da
Conceição, de Vinicius de Moraes. Bonfá tinha dois temas instrumentais na
cabeça que, letrados pelo cronista Antonio Maria (após uma educada recusa da
tarefa por outro cronista, Rubem Braga), transformaram-se respectivamente em
Manhã de Carnaval e Samba do Orfeu. O filme e a beleza da primeira canção (o
samba também é ótimo) a transformaram num dos maiores sucessos
internacionais da bossa nova, catapultado pelo célebre show do movimento no
Carnegie Hall, em novembro de 1962. Foi também o passaporte carimbado para
uma longa estadia do compositor e violonista nos EUA, onde gravou discos
como Black Orpheus Impressions, Jacarandá, Introspectionalém de ter em 1997
um songbook na voz da cantora Ithamara Koorax, Almost in Love. No CD há
outra parceria dele com Jobim (Amor sem Adeus), além de Almost in Love,
gravado pelo rei do rock Elvis Presley para o filme Live a Little, Love a
Little, da MGM, em 1968, outro grande sucesso do compositor (só) no
exterior, Gentle Rain e Menina Flor, que forma com Mania de Maria o par de
contribuições decisivas de Bonfá para a implantação da sintaxe bossa nova.
Sem prender-se à célebre batida de violão cristalizada por João Gilberto,
Bonfá sempre teve sua pegada indelével. "Criei o meu estilo fazendo o baixo
simultâneo para dar o efeito de dois violões", escreveu ele num de seus
últimos depoimentos antes da doença que o imobilizaria. "Absorvi muita coisa
da música americana, cheguei a uma sonoridade suave, sem malabarismo,
enriquecendo mais os acordes. Quando todo mundo tocava só com a unha, eu já
usava a falange. Às vezes juntava as duas coisas e saía outro som. Quando
queria mais estridência abria a mão", ensinava o mestre. "Minha execução é
praticamente sem ruído. O 'sibilado' acontece com quem tem muito calo na mão
que fica pesada. Não gosto de tocar com palheta, fica mecânico, só vale para
quem quer velocidade", definiu o sutil Bonfá, um inovador que nunca fez
alarde de suas revoluções.

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